Sinopse: Para haver um início, teve de haver anteriormente um fim. O fim de uma saga para antever a próxima temporada. Ulquiorra desapareceu entre as areias brancas de Hueco Mundo para um dia retomar. Orihime assistiu desolada ao seu fim, e aguarda expectativa para um novo amanhecer, onde um moreno de olhos verdes estaria presente.
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Capítulo 1 - A mão que tocava em sentimentos
Você tem medo de mim, mulher?"
"Eu não estou com medo."
"Entendo."
Uma ruiva de cabelos longos ondulados despertou de supetão. Era lamentável o estado da jovem. A sua respiração estava descompassada e o corpo desta estava mergulhado pelo suor consequência do repetido pesadelo, aquele que reforçava sua culpa e seu eco interior. Sorria amargurada, ela definia-se como um hollow que perdeu as suas emoções. O seu coração. Cravava as unhas contra as palmas das suas mãos, manchando-as de sangue. Gotas abandonavam as pérolas expressivas acinzentadas.
A guerra finalmente cessou, a paz reinava em todos os mundos e todos poderiam viver suas vidas tranquilamente. Contudo, a mulher não considerava que houve propriamente um vencedor e um perdedor. Num conflito ninguém vence, nunca. Todos perdem algo, abdicam de algo. Principalmente, quando esse algo era a pessoa amada. Orihime Inoue foi a verdadeira liquidada daquela disputa, foi ela que viu ele a desaparecer lentamente, dolorosamente, diante dos seus olhos sem poder fazer absolutamente nada!
Assistia atordoada o quarto espada reduzir-se em cinzas, enquanto sua mente adormecida estava neutralizada pelo pânico, estava incapacitada de qualquer acção que envolvesse o raciocínio.
Revivia os últimos momentos que passara em Las Noches, com ele. A frase ecoava nos seus ouvidos, aquela que ele repetira diversas vezes em Hueco Mundo e que a atormentava agora em sonhos. A pergunta fria que era o único elo que ligava a ruiva à realidade nos dias que esteve presa em cativeiro. Não, ela não tinha medo. A estonteante mulher na altura ficou estática, atordoada, pela repentina mudança do espada… Por ele focar a sua atenção nela. Como se quisesse viver os seus últimos segundos de vida com ela. Não, não tinha medo. O que havia para temer? A sua transformação final que se assemelhava a um anjo da morte, à tenebrosa batalha de alguns minutos atrás ou por estar prestes a perde-lo para sempre?
Foi com esse pensamento que a humana respondeu firmemente à sua pergunta. A princesa de Las Noches não temia a aparência de Ulquiorra, só receava a perdição daquele que ensinou-lhe o verdadeiro significado da palavra amor. Nada se igualizava a esse sufoco, nem o tempo que aprendeu a conviver sozinha, sem seu irmão Sora. Recordava que questionara-se se o arrankar conseguia ler o temor de sua alma, se podia captar a veracidade da sua resposta através de seus olhos lacrimejados, quando lhe respondeu.
Ulquiorra continuou com o braço estendido na direcção da ruiva que estava desordenada com o seu gesto. Quando ela penetrou o seu olhar no olhar gélido dele, pode perceber o desespero agregado a uma fina camada de esperança. Ela por fim compreendeu o motivo daquela gesticulação do vasto lorde. Ele estava a demonstrar sentimentos! Só a ruiva pode interpretar a sua mensagem, só ela estava familiarizada com ele a ponto de o entender.
Nesse instante a mortal deixou de pensar, só o desejo movia o meu corpo. O desejo que ambos compartilhavam. Ele não podia declarar-se, provavelmente ele nem entendia o que se passava no seu coração, e a humana estava trémula demais para dizer algo. Por isso, naquele decisivo momento, só queriam tocar-se uma última vez.
O olhar dela inquietava-se de amor, mas amor é uma emoção. E emoções não podem ser vistas, só sentidas. E num acto final de desespero, o quarto espada tentou tocá-la, tocar nesse sentimento.
Mas as fantasias de ambos acabaram quando os dedos dos dois roçaram e a mão agora quente de Ulquiorra despedaçou-se em pedaços. O espada olhava os restos de sua mão, pela primeira vez calorosa, resultado de um simples toque. Então o moreno conseguiu destruir a incógnita que martelava na sua cabeça, finalmente alcançou uma resposta. Aquele calor era o coração. O último adeus foi dado sem chegar a ser pronunciado. Sem piedade, o vento soprou silencioso da mão feminina o último requisito das cinzas de Ulquiorra… Levando embora o coração que ela colocou nas mãos dele.
A sua presença penetrante e insistente era como uma assombração, que a atemorizava mas em simultâneo a acalmava. Ela necessitava dele, mesmo que fosse só uma lembrança longínqua.
- Porque choras, mulher?
"Se eu fosse a chuva
poderia eu me conectar com o coração de alguém
assim como ela pode unir
os eternamente separados, terra e céu?"
(Orihime Inoue)