Capítulo 7 - Subdivisão da Alma
"Eu sou a espada!"
(Kurosaki Ichigo)
Soul Society
- Kurosaki, não volto a repetir: abre a porta.
Karin estava familiarizada com o temperamento do albino. Previa que caso não permitisse a entrada do seu capitão imediatamente, certamente ele a arrombaria. Lamentava a sua situação e praguejava-o mentalmente. Limpou com a manga do seu kimono negro, todos os requisitos em como havia chorado. Ao abrir a porta, pode encarar uns belos olhos turquesa.
- O que deseja capitão?
Empenhou-se em parecer impassível e desentendida. Hitsugaya era um excelente observador, caso ela falhasse na execução do seu plano, ele com toda a certeza iria reparar.
- Saber o que aconteceu na minha sala. Porque disseste aquilo à Hinamori?
- Uma questão de reverência. A reaitsu da tenente Hinamori é possante, articulei que era o correcto a fazer-se, nada mais.
- Entendo. Sendo assim, acompanha-me.
- Para onde vamos?
Não contestou. Nada que a admirasse, de certa forma sabia a inutilidade de o questionar. Suspirou derrotada. Mesmo estranhando a atitude repentina do albino, escolheu acatar a ordem e segui-lo.
Seguia o seu superior, admirando a identificação do sobretudo do capitão. Toushirou sentindo-se observado, espiou pelo seu ombro, contemplando a face rubra da morena atrás dele, de cabeça baixa. Deu uma leve risada, prosseguindo o seu trajeto. Karin concentrou-se na musicalidade no ruído de seus passos, deleitando-se. Desconcentrava-se, perdia-se nesse som banal, reprimindo seus pensamentos. Conter a esperança que ascendeu seu peito ao constatar que ele a procurou, que notou a sua mudança de atitude. E principalmente, a possibilidade de ele importar-se com ela.
Não reconheceu o lugar onde se encontravam. Não era de espantar, afinal ela ainda era uma recruta que chegou à pouquíssimo tempo. Inspecionou o local, percebendo que tratava-se uma sala de treinamento. Assombrou-se por serem os únicos que estavam ali, sozinhos. Tremeu com o significado oculto desse pensamento.
A próxima acção do seu capitão chamou a sua atenção, e o seu interesse. Seu rosto purpurou, ao mirar a elegância com que o albino retirava cachecol verde. Cravou seus olhos ónix no jovem capitão, quando este despiu seu sobretudo branco. Explorou o pescoço bem desenhado, contemplou o belo peito torneado, parecia um corpo esculpido pelos deuses. Era perfeito. A morena sentia-se impossibilitada de conter seu visível rubor ou seu olhar arrebatador negro, pecaminoso.
- Capitão, porque me trouxe aqui?
Sua indignação não saíra do modo como gostaria que soara, estava trémula. Não estava a ser convincente. Dirigiu seu olhar perdido para um canto desconhecido, que prendesse a sua atenção, para a shinigami redobrar a consciência.
- Aumentar as tuas capacidades Kurosaki. Afinal ainda não tiveste o primeiro contacto com a tua zanpakutou materializada, certo?
- Sim.
Toushirou agarrou numa espada que estava guardada e lançou-a na direcção da pequena Kurosaki. A arma encontrava-se na sua primeira forma: a Asauchi. Aparência inicial de uma espada, quando o shinigami ainda não conseguiu ouvir ou empunhar sua zanpakutou. Era extremamente fraca, não tinha nome próprio ou quaisquer formas de liberação.
- Empunha a espada Kurosaki. Espero que te conectes rápido com a tua zanpakutou, não penso pegar leve.
Abalou-se ao encarar o albino pronto a manejar a Hyounimaru. O olhar turquesa penetrou nos olhos temerosos de Karin, antes de a atacar. A morena foi surpreendida pela velocidade do shunpo do albino, teve que se desviar para a esquerda para proteger-se da sua lâmina letal. Contudo, quando ela fez isso o albino golpeou-a na beirada da barriga com uma força monstruosa, virando Karin de frente para ele e nesse momento o capitão deu-lhe uma rasteira, derrubando-a. A morena levantou a poeira ao cair de costas no maciço chão. As roupas femininas mancharam-se levemente de vermelho e a carne cortada, pelo pequeno raspão da lâmina cortante, parecia queimar e inchar a pele rósea. A dor fazia-a parecer estar prestes a explodir, mas apesar do incómodo do ferimento não virou costas ao inimigo.
Toushirou ia cravar sua espada perto do braço de Karin mas ela bloqueou-o com a sua própria espada com um som estridente, e num movimento ágil acertou com um chute na barriga do albino, que ganiu e recuou dando tempo de a morena erguer-se em um salto e desferir-lhe um golpe pela esquerda, porém ele o bloqueou com a zanpakutou do gelo num som oco e trêmulo. Karin jogou-se para o lado, suada e ofegante, a fim de se distanciar de Toushirou, mas ele novamente lhe passou uma rasteira e o shinigami com uma perna mais esticada que a outra acertou o queixo de Karin, desequilibrando-a e derrubando-a no chão. Não esperou que a morena se preparasse e golpeou-a na barriga de maneira a dilacerá-la de uma ponta a outra. Karin puxou a espada para si, torcendo-a para impedir o próximo golpe do albino. Num salto giratório afastou-se do seu oponente. Ofegava, sentido a urgência de obter a shikai. Sabia que ele a estava a treinar, e mesmo assim não estava a lutar a sério contra ela, só a queria estimular para alcançar a transformação da sua zanpakutou.
- Karin coloca a tua alma dentro da espada, é a única maneira de ela ficar completa.
A morena por leves instantes ficou alheia à realidade, prestando atenção na advertência de Fujin.
- O que queres dizer com isso Fujin?
- Tu és a espada.
Eficientemente e prudentemente, a shinigami esquivou-se de mais um potente ataque do albino. Repetindo ocamente a frase pronunciada pela deusa dos ventos.
De um murmúrio, passou a elevar sua voz. O jovem capitão ao escutá-la, sorriu de canto triunfante, persistindo com o duelo. Ventos cobriam as mãos de Karin, eram a sua própria alma que rodeava a zanpakutou estendida nas mãos delicadas. Movida por um instinto, ela eleva a sua espada e libera uma grande onda de reaitsu.
- Sora no Yaburu ("Rompe os céus"), Fujin!
A onda foi de tal forma intensa, que por momentos o albino teve dificuldade em respirar, atrasando-o no seu combate. E foi nessa oportunidade que ele viu a liberação da espada da morena.
- Daqui em adiante não precisas de pedir o meu poder emprestado pequena shinigami. Tu e eu somos uma pessoa só.
Karin olhou para a sua zanpakutou, assemelhava-se a uma katana normal. Seu tamanho não sofreu grandes alterações, só ficou ligeiramente maior. O que chamou a atenção da mulher de pérolas negras foi uma característica peculiar da sua lâmina. Esta possuía duas cores distintas: uma parte negra, outra branca.
- Tu controlas o tempo Karin, os ventos, o céu… O clima tem duas facetas. Por vezes está ameno, tranquilo. Noutras circunstâncias está destrutivo. As cores representam esse contraste entre o clima. Lembra-te das nuvens, umas vezes querem dizer bom tempo, outras querem dizer mau tempo.
Karin absorveu a informação rapidamente, voltando a sua atenção para o albino, encarando o sorriso orgulhoso do seu capitão. Seu coração inflamou de alegria, dando um discreto sorriso. Ele era a sua perdição, e a sua salvação.
- O treino ainda não acabou Kurosaki.
A voz rouca trouxe-a de volta à realidade, preparando-se para o próximo golpe. As suas espadas cruzaram-se, em simultâneo seus olhares navegavam desnorteados, num estrondoso encontro. Eles recuaram saindo da sala, para o belo e arranjado jardim.
- Souten ni saze ("Eleve-se aos céus de gelo"), Hyourinmaru!
- Sumūzu ni katto, Kamikaze ("Corta suavemente, Vento Divino")!
Curiosamente seus ataques não se devoraram, pelo contrário, completaram-se numa bela sincronia. Eram de elementos diferentes contudo não se opunham.
Observou o semblante de Toushirou descontrair, guardando a sua zanpakutou. Ela imitou o seu gesto, exausta mas tranquila. Olharam em sua volta e viram o resultado entre o choque de suas espadas. A relva verdíssima estava coberta por uma fina camada de neve, enquanto os ventos agitavam todo o local.
- Bom trabalho, Kurosaki.
- Obrigada, Capitão Hitsugaya.
Sentiu um aperto por tratá-lo de forma tão formal mas esta era a sua posição, subordinada. A morena sentia sua consciência sumir progressivamente, quando encarou os belos olhos esmeralda. Viu o albino caminhar na sua direção, destruindo a distância entre eles. O capitão estendeu a sua mão e com um dedo tocou a boca avermelhada da morena, contornando seu lábio inferior, como se desenhasse a sua boca. Seus rostos estavam muito próximos, sentiam a respiração um do outro, entorpecentes. Dependentes um do outro, ânsia descrita no olhar de ambos. Karin cerrou as pálpebras, gozando o cálido momento, as leves cárias que lhe eram proporcionadas. Toushirou levou a mão livre à cintura da morena, aproximando seus corpos. Seus corações batiam descontroladamente, um contra o outro. A pequena Kurosaki ergueu uma de suas mãos ao peito do albino, um carinho simplório mas que teve um impacto fortíssimo no albino. Conduziu sua outra mão feminina aos cabelos rebeldes e macios do rapaz, puxando-os levemente, arrancando um gemido sôfrego do mesmo. Toushirou roçava levemente seu lábio superior no dela, preparado para devorar faminto os pequenos lábios.
- Capitão, uma emergência!